quarta-feira, 19 de maio de 2010

Espera na janela

Na janela esperando
Vi a vida passando
Me fiz algoz
Do meu destino
E passivamente morrendo
Vi as tramas da vida
Como a aranha tecendo

Lentamente, vi passar
Diante de mim, a vida
De outrem que seguiam
no ciclo acrobático
Que é o viver

E sorri amores alheios
E chorei dores alheias
Embora estivesse ali
Percorria caminhos alhures.

Mas então numa dessas reviradas
Que a vida costuma dar
Como revoadas de andorinhas
Que sempre vão
E novamente
Irão voltar
O instinto, velho cão de guarda,
Anichado entre os quereres alheios
Tal qual samurai obstinado
levou-me, da janela à porta
E da porta saí.

E agora que a vida abraçou-me
Já não a vejo
Como passiva observadora
Eu a experimento...
E a magia da vida vivida
Não me deixa mais
Ver a vida passar
Esperando na janela.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pedido

Traga meu coração
Que já não é seu.
E no entanto, insiste tanto
Em grudar-se ao teu.
Preso assim, como cola ao papel
Aconchegado às lembranças primaveris.
Esperançoso, aguarda gestos inesperados
Que não acontecerão.
Devolva-o, peço-te!
Ele é jovem e sonhador.
Quer viver a cumplicidade das emoções
Emaranhar-se nas paixões incontidas
Sentidas no calafrio da pele.
Quer o duplo milagre da vida
De dar e receber.
Sonha com isto, meu coração.
Se outrora sempre foi só
Amou só, sofreu só.
Agora deseja outra alvorada
Como um mancebo forte, desbravador.
Almeja! Este guerreiro
Mesclar-se a quem o deseje
Com a intensidade dos momentos eternos.
Vividos...
Correspondidos...
Traga de volta meu coração!